sexta-feira, 9 de abril de 2010

Again (..)

Só ele me conhecia, estou completamente deformada, a minha voz começou a ficar rouca e o meu respirar passou a ser soluços havendo pequenas pausas entre o meu choro. Paul, seu irmão me agarrou puxando-me assim contra si para que não cai-se novamente ao lhe ver. Logo a ele, que tinha a cara chapada do irmão, ou não fossem eles gémeos. Agarrei-me e dei murros contra o seu peito que provocaram alguns suspiros mais profundos nele, não pensando eu naquela altura que tal como eu, ele estaria a sofrer, Philippe fazia parte da sua vida!
Eu via fotos dele por todo o lado, eu ouvia sons em todo o lado e todos os que falavam me faziam lembra-lo em algo característico que essas pessoas tinham igual ele e eu nunca tivera visto. PROMETES NÃO DEIXAR-ME? É APENAS ISSO QUE TE PEÇO NESTE MOMENTO CATHERINE. Ele pediu-me isto e eu deixei-lhe ir. Eu era feliz com ele, eu amava-o a cima de tudo e todos eu chego a amar-lhe mais que a minha vida. Mary, acorda diariamente a fazer perguntas sobre o pai e eu apenas respondo: hoje não vem Mary, torna a dormir.
Estou a fazer da sua vida, uma vida igual è minha, sem graça e com a cor do amor a preto e branco. Eu não queria isso, mas toda a minha vida tinha sido injusta, até conhecer o meu primeiro amor e tudo mudar. Mary fazia anos amanhã, quatro anos e o seu pai não estaria aqui a pegar-lhe ao colo e dando-lhe presentes que lhe contentavam o brilho dos olhos. Não seria ele a tirar as fotografias nem a cortar o bolo ajudando a filha a soprar as velas, eu sempre achei que podia ser eu a fazer isso, mas desta vez não achava mais. Eu sempre fiquei do lado de fora assistindo suas brincadeiras com um sorriso na cara imaginando projectos e tudo o resto que iria crescer naquele ano. Tínhamos tudo planeado, até nosso segundo filho, o irmão que Mary tanto nos pedia, este ano ela iria ter.
- Mamã, acorda, acorda, faço anos e o papá deve estar a voltar de comprar as minhas prendas! – disse Mary entusiasmada.
- Por favor, pára Mary, vamos falar, senta-te aqui, - fazendo sinal ao lado da minha cama limpando os olhos tirando assim toda a sujeira que ficara depois de tantas lágrimas. – por favor princesa.
Ela parou de saltar e fixou o olhar no meu, afinal chamava-lhe princesa quando algo menos bom e mais sério estava a acontecer, sentando-se assim sem descolar um minuto.
- O papá não volta mais. - disse eu rapidamente.
- Está a trabalhar mais tempo no escritório mamã, não se preocupe, ou se calhar encontrou uma loja nova para os meus presentes. – tentando assim aliviar-me.
- Não, desta vez, não amor. Lembras-te de falarmos do céu? – disse tentando sorrir.
- Sim mamã, . Falas-te com o papá para fazermos uma viagem até lá? – esboçando assim um enorme sorriso.
- Não princesa, seu pai fez essa viagem sozinho e ficou a morar numa estrela.
- Eu consigo vê-lo?
- Sim, consegues.
- Como mamã? Eu quero vê-lo hoje.
- Quando ficar de noite, espreita pela janela e procura a estrela mais bonita, essa será ele. Ele ficou a morar nessa estrela para tu lhe conseguires ver princesa.
- Mas ainda demora tanto mamã. E eu quero os meus presentes, eu faço anos, lembras-te? – fazendo assim uma cara desanimada.
- Claro que me lembro, como poderia esquecer-me? Vamos abrir seus presentes boneca.
Pela primeira vez estava saindo da cama, vesti meu robe e calcei meus chinelos de quarto tentando correr para lhe apanhar no seu andar repentino para apanhar o primeiro presente. Philippe escondia os presentes e já os tinha escondido a um mês, mas desta vez nem eu sabia, não tivéramos tempo para falar sobre os sítios aonde esconder ou até se ela os ia encontrar. Mas em cada um deles encontrava uma pista para o outro. Philippe mimava-a muito preparando-lhe assim muitas surpresas no seu dia de anos.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Por favor, não me deixes!

Já não me sinto em mim, levantar-me diria eu em certos tempos atrás que era o começo da minha manhã, mas agora não é mais, juro a mim mesma que acabei matando a minha alma ficando dias inteiros na cama a mudar de canal sempre que dá publicidade e contando às minhas irmãs todos os episódios das suas novelas que perdem trabalhando enquanto eu fico aqui sozinha. Não digo mais que vou trabalhar, não acordo com um sorriso na cara e digo amo-te à pessoa que dormiu durante anos lado a lado comigo. Esteve comigo nos meus momentos mais altos e nos momentos em que eu fracassei, esteve segurando a minha mão quando nossa filha nasceu, esteve comigo sempre. Mas no final sempre me dizia que por onde eu andasse, que por onde estivesse ele me ia amar sempre, por mais que a vida nos separasse ele me ia agarrar e me levaria com ele até ao fim do Mundo e sempre eu acreditei.
Não devia ter sido agora, não devia ter saído da minha vida de um momento para o outro, ele sempre disse que ia ficar bom, e que quando ele fosse me levaria com ele, ELE DISSE-ME!
Pela primeira vez mentiu-me, e abriu-me a ferida mais profunda que eu já tivera, mentiu-me sobre a sua vida, disse que ia viver para ver os nossos netos a correr no nosso jardim e mal chegou a ver a nossa filha crescer. Prometi não lhe largar a mão e não a larguei até que me avisaram que não dava mais, que teria de sair daquele sítio. Para esperar na sala de estar. Como poderia estar numa sala de estar? Havia alguma maneira de estar ali? Eu andava de trás para a frente e da frente para trás sem saber como estaria naquela hora o meu marido, que noutra altura estava sorrindo para mim e dizendo que me amava de uma maneira tão linda que parecia que íamos ficar juntos durante tantos anos. Sentei-me e acalmei-me enquanto bebia um chã de camomila bem quente, que me obrigaram a beber pelas quantas horas que fiquei ali em pé sem nada no estômago, mesmo quando eu dizia que nada me passara pela garganta, nem mesmo a minha saliva. Senti um frio vir sobre mim e uma sombra assombrou o espaço onde estava sentada. Olhei repentinamente e vi o médico com um olhar aterrorizador sobre mim, não pode ser pensei eu.
- Desculpe, desta vez não deu mais, - disse o médico baixando a cabeça – desc…
- Desculpe? Não deu mais? Não deu mais o quê?! – Interroguei eu não acreditando no que o médico me dizia.
- O seu marido, não deu mais, ele morreu.
- Por favor, não brinque comigo, ele não pode ter morrido. Ele ia ficar comigo para sempre, ele disse-me que ia, ele prometeu-me que não ia embora antes de eu ir! Ele não me pode ter mentido, logo agora. – Disse eu tentando manter a calma até que expulsei a minha dor com cinco palavras. – ELE NÃO PODE TER MORRIDO!
- Fizemos tudo ao nosso alcance minha senhora, não deu mais. – Disse aquilo e foi embora.
Como é que me podiam dizer aquilo? Será que fizeram? O meu marido morreu. MORREU, e ainda tem coragem de me dizer que fizeram tudo o que podiam. Eu não poderia viver sem ele, não agora com a nossa filha ainda pequena.
Senti um pedaço de mim ficar naquele lugar e ir com ele, dizer que o amava era pouco e dizer que o tinha de deixar um dia, para mim isso seria impossível, mesmo muito impossível. Como se ele fosse única pessoa que me limpava as lágrimas e me acalmava, era simplesmente a verdade naquela altura era apenas ele que me conseguia acalmar. Nunca mais iria sentir a sua pele, a sua barba roçar na minha cara enquanto nos beijávamos ou até sentir os seus dedos entrelaçados nos meus enquanto dizíamos as coisas mais lindas que achávamos.
Tinha o perdido de vez e já nada mais o trazia de volta, mesmo que eu chorasse ou até gritasse. Eu até podia puxar os meus cabelos mas isso só ia fazer com que outra dor nascesse em mim e eu nunca iria querer isso. Eu tinha uma filha, Mary e teria de fazer tudo por ela, Philippe podia ter morrido, mas eu estava aqui. Estava a ser egoísta, eu sei, mas já nada amenizava minha dor. Eu caí no chão e por mais que me tentassem levantar, a minha dor me deixava mais de rastos e fazia força comigo para ficar mesmo lá no fundo. Eu esbofeteei-me, eu esperneei-me e acreditei que estava a ter um pesadelo, cheguei ao ponto de me penicar sem sentir dor e sem querer parar, as lágrimas caiam-me e deixavam-me o rosto húmido e frio.

Contos & Contados o que vou eu Contar.

Este blog estará aqui simplesmente por estar, talvez vai ser apenas mais um blog lido por uma ou duas pessoas, que passam, leiem e se calam, apenas fazendo breves pausas entre pontos e virgulas. Afinal é isso que se costuma fazer quando se lê, pausas. Daquelas que passam repentinamente, mas desta vez quero que leiam e sintam como eu me senti ao escrever. Não vou contar a minha vida, vou fazer um "livro", o tal "livro" que eu sempre sonhei escrever, se calhar nem vai valer a pena, afinal ninguém vai chegar aqui e dizer: " Bem, isto é bom, muito bom."
Simplesmente irão dizer: "talvez tenhas sorte, ou não."
Tenho um sonho que guardo, fazendo isto brincadeira, vir a ser um dia escritora. A partir de hoje começarei a publicar o que escrevo e vai tornar-se uma história maior ao longo do tempo, talvez não publique diariamente. mas semanalmente estará um novo texto aqui. Agradeço a todos os que lerem.
Beijos, ou abraços.
Contos & Contados.